Urubu Cultural

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segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Alcióneo Alce

  Aprecio devidamente alces que se envergam de velharias e que marcham sem parar durante toda a barragem do rio Kwai; e que choram lágrimas de sangue pelos poetas que já morreram, que já partiram sem dizer adeus a nada (como se fosse possível!!!). Uns choramingas, todos esses poetas e poetizas, uns petizes grandes, que sentem, mais do que ninguém, o retirar forçado da teta materna. Quer-se um determinado grito, de cristal, imaterial, na Boémia, mas que fêmea, exclama entusiasmado o senhor doutor em Paris:
- Atentem em seus gestos senhoris!
Era bela sim senhor, até ter sido atropelada por um comboio em movimento, sem sentimento. E os velhos que cagam por sobre a fronteira, nunca mais a deixaram, nem andaram de caganeira. Havia uma velhota que chorava lágrimas de sangue e diarreia, era a tia Andreia; cantava muito bem o fado com mão de talhante, confeccionava bolos de doce fino enquanto fazia o pino com seu neto Sandro Marteniel Gil do Carmo e Cunha Resende dos Passos Manuel Soares Brito de Cunha Maciel, natural de Resende Marco de Canavezes, dá umas belas bufas às vezes. E canta o fado, maldito fado não me sai da cabeça, talvez se comer uns bofezinhos com arroz e feijão. É o que tenho hoje “pro” almoço, senhoras e senhores, meninos e meninas; uma salva de peidos para o palhaço batatinha que leva na conazinha, na cozinha.
 Todo o mistério se explica: batatinha é nome de gaja, logo tem uma conazinha, um orificiozinho para por moedinhas, e ela canta e dança, em actos tresloucados (maldito fado!) até descansar e cair “pro” lado a arfar como quem chama por mim, e é amar-te assim perdidamente, como quem chama por mim e faz diarreia no chão, e toda a família aplaude o primeiro presente que o menino Marquinho faz no bacio.
 É com pesar que se constata que o menino tem lombrigas, vá lá não ter sida é muito bom, se tivesse sida mandava-se matar e acabou. Assim só tem lombrigas, dá-se miminhos, queira deus, não tenha uma bicha-solitária que lhe cante o fado nas entranhas, constante. “Beba já um pouquinho de aguardente meu menino, para matar essas filhas-da-puta que andam a chupar as tripas do meu menino, ai coitadinho já está escaradinho de todo.
Imobiliza-me com teu alcióneo grito de cristal. Despedaçou-me assim o soldado amante da cardadeira. Os meus tímpanos implodiram, com teu miserável grito das falésias-almas.

 Imobiliza-me.
 O meu escudo de papel-vegetal, está repleto de lágrimas de elefantes inocentes, que chacinei para compor a minha lança de marfim fúchsia.
 A mesma lança que agora te retorce o coração de óculos-escuros. As aventuras dos poetas não voltam mais. O real é um suceder de imagens indistintas. Uma figura humana. Um homem talvez. Estática. Cores. Não há som. Tudo se passa na mais rigorosa e premente ausência de som.
 O Homem não é mais o animal social. Outrora continente, a humanidade é um arquipélago sangrento cujo destino, cujo nome, agora ignoro.
 Alguém deve gastar a tinta das canetas, alguém deve reciclar as sensibilidades ofendidas. És tu! Filha dos abismos, que deves gritar até nunca mais. Chega de cantar as desgraças. As misérias não se cantam. Grita!

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