Urubu Cultural

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terça-feira, 30 de novembro de 2010

Aos enamorados...

Quem dera que o amor,
fosse como flores-de-plástico,
nunca perdendo o vigor.
Não era fantástico?

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

A Profetisa Maria Elisa

 Hoje, no regresso a casa, pelas ruas indistintamente anoitecidas da cidade natal, ia caminhando com vagar, enquanto comia um prazenteiro pão-com-torresmos, comprado na mercearia do Zé Charrinho. Depois do cemitério, depois do moinho, depois de descer as escadas perto do meu bloco de apartamentos, reparei que subia a rua uma idosa. Observei a velha senhora, como atentaria na banalidade doutro qualquer transeunte, que não demonstrasse sinais evidentes de agressividade. Ao nos cruzarmos, a anciã cumprimentou-me e, ao mesmo tempo que me estendia uma pequena brochura, confidenciou-me que o fim de todo o sofrimento estava para breve; recusando polidamente a referida brochura, acto contínuo, segui o meu destino, não sem ser assaltado por um terrível calafrio na espinha.
         O que saberia esta velha para me fazer tal revelação? Fui eu o único a quem declarou o seu segredo? Ignoro-o, assim como a mulher ignora a perigosidade da sua novidade.
         O desconforto instantâneo que senti ao escutar as palavras da profetisa, não foi de todo causado pelo conteúdo da mensagem, mas a ser esta verdadeira, pelas terríveis consequências que acarretará. Terminado o sofrimento, é arrancada a máscara metafísica da vida.
         A vida, dentro dos trâmites que atrás a classifica, bem como outros conceitos, a saber: o Nada, o Infinito, a Beleza, o Amor e Deus, estes só a título de exemplo, carecem de uma máscara, confeccionada e convencionada pelos Homens, para que possam ser minimamente perceptíveis. Permitem-nos navegar à bolina pelos oceanos, sem contudo chegarmos alguma vez a tomar o conhecimento real da sua profundidade.
         A máscara do Nada é a que cai com mais facilidade, de aí surgir este primeiramente enumerado, é a ausência de matéria, porém, ao fazer tal afirmação estou como que a lhe conferir uma espécie de existência, é impossível definir o Nada, como sendo seja o que for, mesmo que este não seja nada, assim falava Zenão de Eléia.
         O disfarce do Infinito é um pouco mais ornamentado, isto é, todos nós somos capazes de conceber o início de algo, até de enunciar que esse algo supostamente não terá fim, contudo ninguém consegue exemplificar tangencialmente a infinitude. Talvez só mesmo Sísifo o compreenda.
         A maquilhagem da Beleza é pintada com as cores de tudo o que é, de alguma forma, agradável aos sentidos. Ponhamos um espectador frente a um quadro onde se conjugue determinada combinação de cores, partamos do princípio que o espectador aprecia bastante o quadro, de seguida coloquemos no mesmo sítio um espectador daltónico, com certeza não vai perceber o quadro da mesma forma que o primeiro espectador; e este exemplo é já extremo, visto o desacordo sobre a Beleza de determinada coisa, poder surgir entre dois indivíduos perfeitamente capazes, de distinguir as cores normalmente. A Beleza é um conceito de tal maneira bizarro, que a espécie humana prescinde do seu bem-estar fisiológico e mental, para supostamente a conseguir, mormente quando se trata da fêmea da espécie supra citada: podem ser apontados, dois ínfimos exemplos, no vasto rol das torturas a que as mulheres se submeteram e submetem: o enfaixamento dos pés das raparigas chinesas no passado e, actualmente, a veneração que é prestada aos esqueletos esquizofrénicos ambulantes das passarelas. Situação de tal maneira paradoxal, que as mulheres com verdadeiras características feminis, se julgam na obrigação de imitar pessoas doentes, para que sejam consideradas belas. Assim pereceram as mais belas jovens da minha geração.
         O Amor tem três mascarilhas, uma só física, que consiste na fricção dos dois órgãos sexuais tumefactos, individualmente ou em conjunto, uma só espiritual ou platónica, por exemplo, o caso das freiras católicas apostólicas romanas, que se casam com Jesus Cristo, e uma terceira, que é a síntese das duas anteriores. Cabe a cada um desmascarar o Amor à sua maneira.
         Deus apresenta a máscara mais ornamentada e mais disputada, de entre todas as que já referi: a de um ser superior. A melhor forma de ilustrar a ideia de Deus, conceito para mim totalmente ininteligível, é a de o comparar a um ideograma oriental, se um chinês mo desenhar, e disser que aquele conjunto de linhas significa seja o que for, eu não o posso afirmar nem negar, pois não compreendo a forma como é construído, apesar disso, como tudo o que é, deve obedecer a determinados preceitos matemáticos, posso estudá-los e aferir a sinceridade do chinês ou não. Deus só poderá ser negado ou afirmado, quando se-lhe conhecer a fórmula matemática.
         Mas já basta de filosofia de pacotilha, voltemos antes à profecia de Maria Elisa. Se tudo correr como a idosa prevê, o fim do sofrimento trará consigo o fim da felicidade, pois que sem a sua antítese, esta se tornará irreconhecível. Se nunca mais nos sentirmos infelizes, como vamos saber que estamos felizes? É recorrendo à dialéctica hegeliana que se poderá obter a máscara metafísica da vida; admitindo que a felicidade é a tese, e o sofrimento ou infelicidade, a antítese, a síntese será a dimensão metafísica da vida. Trocando por miúdos, se não juntássemos o preto com o branco, nunca conheceríamos o cinzento.       

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Sermão de São Tomé aos peixes

«- Os peixes não conseguem jogar snooker porque: não têm pernas e/ou braços, polegares oponíveis, sequer mãos, pulmões, os olhos emparelhados e, porque a sua memória é inferior a cinco segundos. Visto isto, é melhor ser um polvo.»