Urubu Cultural

Urubu Cultural

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Jacques Bruxo

Tenho um coração de mármore;
Defeco morangos logo pela manhã.
Sapatos de cortiça saiem-me dos tímpanos... mas sem grande dor.
Danço samba sem unhas nos pés e calço botas vomitadas à beirada do Canal do Suez.
Vi um valente gigante de pénis em riste. Atacava uma donzela. Aquilo que ele mais queria era montar-se nela.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Na Bruma um Gato de Espuma


Na bruma, um gato de espuma
Com suas garras afiadas,
Dóis sóis abraçam luas ébrias;
Sóbrias as sombras de línguas apaixonantes
Vívidos sonantes com suas virtudes
Cantos em poeira, chão de fogo;
Um tronco coração aguarda,
Existe um senão,
Na bruma, um gato de espuma
Devora canções de amor.

Esquisita Beleza na Nébula Secreta


Na madrugada de ar rarefeito
Os veementes uivos
Trauteiam ribombos
Em melodiosos rumorejos;






E é quando a grande névoa
De tolhido mistério
Se insurge galopante
Pelas retorcidas colinas da metrópole,
Que espessas legiões de noitibós
Levitam em sumptuosos passos;

Eis que na nébula secreta
Uma silhueta sombria
De dispersas e indescritíveis percepções;
Uma fêmea de envoltos odores
De esquisita beleza
Negros cabelos em cinza;

Volátil e descalça,
Parece que acaricia a alma.
Os dedos férteis firmam as carnes adoentadas,
Em estranho aviso de anunciada verdade
Aproximam-se agora augúrios pestilentos
Turvos em mantos de perversos declínios;

Uma fêmea de envoltos odores
De esquisita beleza
Negros cabelos em cinza;

Os noitibós em desesperante pipilar,
Gracejam horripilantes presságios
Sob os desgostosos céus de deslustradas colorações;

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

As noivas de Cristo

Deve haver um ano a esta parte quando, deitado na cama, às onze horas da noite, esperando que o João-pestana me viesse prestar seu valoroso serviço, me recordei do que na catequese se passou. Uma rapariga ameríndia, minha catecúmena colega, de seu nome Sónia Sundance, perguntou assim à irmã catequista:

- Irmã, se Nosso Senhor Jesus Cristo contraísse a S.I.D.A, o que sucederia?

- As freiras morreriam todas.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Fazer das tripas coração ou uma história com final feliz

 Marlenne S., chamemos-lhe assim, era o arquétipo da jovem-mulher banal: boa rapariga, insonsa, assim-assim, sem sal, cujo único capricho era, os bailes de carnaval (não ia mascarada). Partilhava o sonho comum de todas as assíduas leitoras da revista: Menina e Moça, ser boa mãe e boa cristã; aprendiz de esthéticienne, cria que este ofício, lhe traria um bom amanhã.
 Não deveria ter mais de seis aninhos, e a resposta à invariável pergunta, que se faz a estes anjinhos: «Então o que é que a menina quer ser, quando for crescida?», era imutável: «A Marlenne, quer ser esthéticienne!». Réplica que fazia sorrir os vizinhos, quando de dentro do seu soquete e sandália brancos, bem como de seus folhados vestidinhos, afirmava com convicção, sua pretensão à futura profissão.
 Agora com vinte e cinco anos, apesar dos cabelos doirados, já não fazia sorrir ninguém, ficara com os dentes encavalitados, consequência do uso, demasiado prolongado, da chucha; a feição era também algo assimétrica, sua visagem antónima da estética. Seu diploma de esthéticienne, granjeou-lhe preste um posto laboral no: Salão Esperança, onde passou a arranjar as unhas de toda a vizinhança, e arredores. Nascera para ser esthéticienne, Marlenne.
 Porém, como por vezes acontece na vida, a realização de um grande sonho, não basta para alcançar a felicidade prometida. Marlenne via, sem ponta de inveja, mas com alguma melancolia, que os namorados de todas as suas colegas do salão, as vinham esperar, à hora do serviço largar. Ela nunca havia conhecido esse bem, que é o amor. Quando aos domingos de tarde, tomava chá em casa das amigas, confessava, pesarosa, que também queria namorar, e que em lugar de coração, tinha um gatinho a chorar.
 Certa noite, foi Marlenne a um baile de máscaras com suas companheiras e respectivos namorados, que não iam mascarados. Por haver, cozido de couve ter jantado, sentindo o aparelho digestivo algo embargado, deixou-se ficar de pé, perto de um jovem sentado. Sofrendo por não ter par, quedou-se lassa, vendo suas amigas na pista rodopiar e, como se não bastasse, decidiu seu esfíncter se manifestar, não se contendo, muda flatulência resolveu soltar. Embaraçada por sua incontinência, e podendo o jovem a seu lado, sua bufa vir a cheirar, logo começou a corar. Contudo, situação diversa se veio a verificar, levantando-se o garboso mancebo, convidou-a para dançar.
 De brilhantina no cabelo, fato novo e bigode aparado, fez com que a partir daquele dia, a vida de Marlenne, conhecesse diverso fado. Atacando desde logo o fox-trot que ecoava pelo salão, ao ouvido da rapariga, depois de darem a mão, perguntou o moço:
 - Qual é a sua graça? Se não é indiscrição…
 - Marlenne, com dois enes… - disse com satisfação.
 - Pois eu, chamo-me Douglas Miranda, e digo-lhe que suas bufas, cheiram a lavanda.
Por tão singular galanteio derretida, questionou a moça ao rapaz, o que fazia na vida:
 - Sou perfumista de profissão, e acredite que com mais um peido seu, me roubará o coração!
E assim foi, Marlenne fez-lhe a vontade.
 Trocando alianças no altar, seis meses mais tarde, para gáudio de Douglas, uma bufinha não deixou de dar.