Urubu Cultural

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sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Cão sem pião


 Estava à soleira da porta um cão, sem pião. Voava sem mão, pimba catrapimba, e o sol saiu da órbita lunar de merda, caixa sem fósforos verdadeiros, que morrem em pé, como as árvores, e pensam em pássaros verdadeiros, que piam em sonhos de uma mulher solteira, cujo marido voou para longe daqui, e não se contenta com a renda mensal de: uma enxada e dois alqueires de milho, trigo e quem sabe aveia. Peixe sem cabeça: é um carapau que fala mas tem barbatanas, e não pesca, porque essa tarefa se reserva aos pescadores sem língua, cujas avós morreram na guerra de quarenta, e sinalizaram a vermelho o úbere remendado da velhice. Podridão, ramelas com pus, sendo o ácido corrosivo, apela à morte na estrada. Cães e gatos aleijam-se mutuamente nas pernas, pássaros que piam, mas que mordem os dentes, e a língua pensadora fala em inglês, com o vizinho espanhol, que morreu ontem à noite sem estendal que lhe valesse, era pobre e remendão.
 Certa noite tive um garrafão de vinho de cinco litros, que não me coube pelos ouvidos, chorei de doença que não compensa. Amália estava na estrada e comia marmelada, porque não tinha moreia, que certamente preferiria, e mordia como quem morde, a alma triste de um pescador voador, que morre na praia.
 Trovões na terra e deus no céu, que comanda as tropas do destino, morte no caminho, porque penso assim. Medronho de merda, faz dores de cabeça no pão duro, sem bolor, peixe agulha intergaláctico, que voa sem parar, rumo ao futuro, pede esmola menina, pede esmola, e pode ser que te saia o totobola, numa manhã de quinta-feira sem anéis nos dedos. O cão vai a ladrar e o padre voa, por cima da igreja, merda para isso, que o polícia cá em baixo, tem a espingarda aperrada, para lhe dar um tiro nos cornos sem pão, que pede perdão. Nosso senhor que estais no céu, desce e anda cá abaixo ver isto, que já duas vizinhas engavelam e pedem esmola ao padre, que entretanto morreu; morte no serviço, uma menção honrosa pelo dever cumprido, oferecida pelo presidente da república sem fraque, que é fraco e pede esmola às vizinhas, que choram o padre, e que nunca têm os maridos em casa, por estes se encontrarem com as putas e as filhas, no bordel sem luz, perto da estrada que não finda, e que é louca pelo marido dela esvoaçar, sem parar, pela janela do quarto, mudar, e navegar sem bússola, é suicídio, enorme audácia por parte de ti, meu amor, que sem um dedo no pé, pedes esmola a dançar, ao correio sentimental de deus, da lua, e que mais.
 Pede-me amor, e te darei calor sem pistolas, que mudam consequentemente, sem pedir amor, pelo esquentador sai sangue quente, que deitas pelo nariz e morres na praia, como o argonauta que pede saias às vizinhas, que não param de coscuvilhar, vamos embora daqui cavar no campo, não me dês ferramentas!, dá-me o neo-realismo, imediatamente, sem mais pesar, antes que a revolução rebente e vamos todos desta para melhor, sem mais acontecer. Receio o padre que morre na praia, nas dunas: alta vegetação que se ergue, mija para cima de ti e morres engasgado, tornaste no dragão redentor que pede esmola ao caralho, que fode a prima, e morre com ela na praia, na fortaleza verdadeira dos sonhos, onirísmo secreto de meninas colegiais, seviciadas por freiras fressureiras, que lhes batem incessantemente, sem parar, grandes vergões nas costas lhes surgem e não tem pão, como Oliver Twist, que insiste.

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