O profeta Casimiro, sentado no topo de uma enorme pedra, no meio de uma clareira da floresta, respondia às questões de seu discípulo único, Babien:- Mestre, o que é a solidão?
- A solidão Babien, é não dispor das graças femininas numa noite entediante de domingo.
- Mestre, o que é a arte?
- A arte Babien, é uma bonita floresta verdejante, onde tudo é perfeito; antecedida pelo fértil e ordenado pomar da ciência, e precedido pelo deserto abismo que é a filosofia e cujo seu fundo é a religião.
- Mestre, o que é um escritor?
- Um escritor Babien, é um filósofo de meia-tigela, é um homem que se move na savana, afastando o capim que antecede o abismo filosófico.
- Mestre, e um poeta?
- Um poeta Babien, é um homem metafísico que em lugar de cair no abismo da filosofia, se sobrepõe a esta, ultrapassando a atracção que este provoca aos outros homens.
- Mestre, o que é um filósofo?
- Um filósofo Babien, é um homem constantemente em queda no abismo filosófico, sem nunca atingir o seu fim, um filósofo é um homem perdido, um condenado a cair para sempre no abismo sem nunca alcançar o seu final ou sobrepô-lo.
- Não compreendo Mestre
- Então és um filósofo.
Em outro cenário, à beira-mar, o profeta Casimiro meditava no cimo de uma rocha banhada pela leve ondulação, da areia o seu discípulo contempla-o:
- Mestre o que é que está para além do abismo filosófico?
- Está o Nada Babien...
- Então os poetas movimentam-se no Nada?
- Os poetas dominam o Nada; o Nada é uma fera, o poeta é o seu amestrador.
- E antes do frutífero pomar científico, o que é que há?
- Antes do pomar frutuoso da ciência, há o aleatório Babien, infinitamente incomensurável.
- Então Deus é um poeta?
- Os poetas é que são deuses.
- Então quem criou o Nada? Foi Deus?
O profeta Casimiro, irascível, desiludido com esta questão do seu discípulo, respondeu irado, gritando:
- Deus criou a matéria!!!
- Então o que é que originou o Nada? Se Deus criou os poetas para estes dominarem o Nada, quem ou que fenómeno o criou?
- Ninguém, nem nada o criou, Deus, ele próprio, é fruto do Nada. O Nada é.
- Se o nada não é nada, como é que pode ser?
Aqui o profeta Casimiro esboçou um sorriso de satisfação, pela indução do seu discípulo, ante o seu paradoxo.
- O Nada Babien, é isso mesmo, é a sua negação; o Nada é o infinito, o estádio infinito entre o ser e o não-ser. É e não é constantemente, o Nada é um fantasma de si próprio.
- Não compreendo Mestre...
- Então és um filósofo.
Numa viela suja o profeta Casimiro, sentado num poial, contemplava, Babien no alcatrão questionou:
- E para além do Nada Mestre, há alguma coisa?
- Há, há o inqualificável, que deixa de ser assim que o qualificas de inqualificável, é o tempo, é o presente, que assim que o mencionas, passa a ser passado.
- O inqualificável portanto, não é...
- Não, o inqualificável não pode não ser, pois logo aí está a ser qualificado de não-ser.
- Não compreendo Mestre.
- Então és um filósofo Babien.
- Mestre, então tudo é Nada?
- Sim, Mestre Babien, Tudo é Nada. Tudo pode ser reduzido ao infinito, ao espectro sublime que é o Nada, o que realmente existe é o inqualificável, que como vimos nos escapa como areia fina por entre os dedos, é o predador que se antecipa sempre à presa que o tenta vislumbrar emboscado, porém este está sempre um passo à frente, e captura-a sempre.
- Agora compreendo Mestre.
- Então és um poeta Babien.
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