Urubu Cultural

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quarta-feira, 9 de setembro de 2009

O novo profeta

Nos alvores do novo milénio surgiu uma questão muito pertinente. Mara Filipa Santos foi abduzida por uma espécie extraterrestre muito evoluída. No interior da sua nave inseminaram-na artificialmente e ensinaram-lhe poesia, para que pudesse espalhar a boa nova em versos de profunda inspiração. Os extraterrestres também fizeram crer a Mara, por meios hipnoticamente duvidosos, que eram Deus.
Mara foi posteriormente deixada numa mata de Barão de São João, onde foi encontrada por caçadores que a violaram incessantemente, encharcados que estavam em aguardente. Mara apresentou queixa no posto da G.N.R. e não teve melhor sorte, os militares fizeram pouco de si e ainda a violaram, foram alguns seis ou sete.
Depois de todo este manancial de violações, decidiu recorrer à polícia judiciária de Faro; lá, foi conduzida a uma pequena sala mal ventilada e sem janelas, onde foi abusada por todas as mulheres da limpeza, que sem nada saberem, tinham a certeza que Mara carregava uma criança alienígena.
Quando Mara chegou a casa, a primeira coisa que fez, foi trespassar a mãe e a avó com uma faca afiada de cortar presunto espanhol, enquanto na aparelhagem soava o heavy metal da sua predilecção. Terminado o massacre, Mara escreveu durante quinze dias e quinze noites um livro de poemas, em que afirmava carregar um filho de Deus, e no qual também relatava as sevícias de que fora alvo por parte das forças policiais.
No meio disto tudo, Mara travou conhecimento com um indivíduo que tinha uma roulotte de farturas, este transformou os cadáveres de sua sogra e respectiva mãe em massa de filhós, e vendeu tudo a cinco euros.
Eis que Mara se lançava à aventura por esse mundo fora, como vendedora de seringonhos.
Quando chegou o dia de dar à luz, chovia muito, o companheiro de Mara fechou a roulotte e preparou-se parra assistir ao nascimento do filho que julgava seu, pois Mara nunca lhe confessou que tinha tido outros casos, nem a respeito das violações. Quando a cabeça do puto já estava de fora da cona de Mara, Deolindo Bragança, assim se chamava o vendedor de seringonhos, achou muito estranho o puto ser preto, mas não disse nada à parturiente, para não a alarmar, que nestas situações é sempre de evitar. Só mais tarde, depois de ter fritado o cordão umbilical e de o ter vendido como se de um seringonho se tratasse, é que deu uma carga de porrada na mulher, por verificar efectivamente que a criança não era o fruto do seu sémen. Foi então que, atormentada pelos fantasmas do passado, Mara confessou tudo: a visita de Deus, as violações e os abusos que sofrera. Deolindo Bragança, que só tinha a quarta classe, mas era ladino como uma raposa, chegou à seguinte conclusão, ou conclusões, para sermos mais exactos: o bebé só podia ser filho dos caçadores ou dos militares, visto que, de Deus não podia ser, devido à cor da sua pele, e das mulheres da limpeza também não podia ser, visto que mulheres não podem copular com outras mulheres, estando essa tarefa reservada apenas aos homens.
Deolindo Bragança, exasperado, disse assim para a mulher:
- Sua grande puta, pá, é assim que me pagas tudo o que fiz por ti? Dando-me um filho ilegítimo?
Mara não se recordava de tudo o que Deolindo tinha feito por ela, visto que o mesmo a vergastou com o cinto a fim de lhe avivar a memória e exclamou:
- Amanhã vamos a Barão de São João, onde vou rebentar com o canastro de todos os caçadores e G.N.R.’s pretos.
E assim se passou tudo, Deolindo Bragança arrumou a trouxa e partiu, com Mara na roulotte, com o recém-nascido nos braços.

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