Urubu Cultural

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terça-feira, 8 de setembro de 2009

Chá verde

Carlos Bastos tinha acabado de jantar, e já estava acabado, abafado pela morte. Abalado, tomava chá verde, no sentido de amenizar o nefasto efeito dos radicais livres, que lhe tinham provocado carcinoma pulmonar e cirrose hepática cavalgantes, constantes. Carlos Bastos gostava de escrever poesia em prosa, e de agradar aos amigos, com subtis macacadas, improvisadas de manhã; antes do cantar do galo Zacarias, que tu nunca comias, na companhia do camarada Tobias. Carlos Bastos era um velho do Restelo, no que rapar o pêlo concernia. Comia valentes raposas sem dentes, com croissants, em diversas manhãs de Páscoa florida, sem sida.
Quase no seu leito de morte, Carlos Bastos, escreveu uma frase muito bonita, e poética, nada sintética: “A escrita não deve ser encarada como um fim, ao invés, como um meio.”
Um meio para alcançar coisa nenhuma que assobia, e se asseme-lhe a poesia de pia. Jogo para a pia, toda a minha poesia de versos brancos, sem flancos. A melhor poesia que faço, dizia Carlos Bastos, é a que faço com os braços, depois de cagar, o borrão de merda que resta no papel higiénico, parece-me uma bela ode, uma puta, que sem parar fode. “É só putas de cona em brasa, sempre que venho a esta casa!” Exclamava Carlos Bastos, quando numa correria, aos favores sexuais de prostitutas recorria com assiduidade. Assíduo de meninas asseadas, que a higiene vem em primeiro plano, se não me engano redondamente.

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