Urubu Cultural

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quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Os Homens-Pê

Os Homens-Pê eram uns super-homens muito poderosos que cagavam de pé nas tabernas. Bebiam copos de vinho de três e cagavam, não precisavam de mais nada para serem presos numa cadeia de alta segurança, onde conheciam velhos que lhes ensinavam a jogar o dominó estoicamente, dolorosamente e sem compaixão por quem sofre. Devemos sentir compaixão por quem sofre. E também por quem não consegue pagar a conta da luz a tempo, pois estes são os verdadeiros mártires do nosso século, que só esperam que o apocalipse se eclipse, enquanto comem papas cerelac e xerém de algodão em rama, que trama.
Os Homens-Pê fiam sem cessar, voam sem parar por mares nunca d’antes navegados pelo homem-comum. Rezam de joelhos em sangue no genuflexório onde aguardam a benção do senhor padre Fontes, que também caga de pé e põe soutiens de senhora enquanto diz missa em latim.
As mães dos Homens-Pê não saem de casa, onde rezam sem cessar por um futuro melhor para os seus, para serem crismados e irem para os céus falar com os psiquiatras doentes. Normalmente quem se suicida é porque é filho de gente boa. Foi ele que ao mijar deixou de conversar, era uma pessoa super-fechada, mas foi o trajecto de vida dele, ao invés seria uma pessoa totalmente diferente, uma pessoa sempre a trabalhar num hipermercado, constitucionalmente.
Lembro-me quando era menina, era completamente inconsciente do mundo à minha volta, era porque tinha vivências completamente diferentes das que tenho hoje em dia:
- Mas ó Tiago, és um paneleiro, e as pessoas tentam-se matar a engolir.
Resposta do Tiago:
- Ela deixava a porta aberta e o meu pai ia-me violar incessantemente, é óbvio.
- Filho da puta, quem quiser se suicidar, suicida-se à mesma, e não há Homens-Pê como o meu tio, que cortou os pulsos, era uma intervenção.
Houve uma altura em que os médicos proibiram que se cantassem as janeiras, pois as pessoas suicidavam-se muito, ou iam para Belém. Os cantores das janeiras são muito alegres e amigos dos seus amigos. Nascem todos em Belém com a lua alta. Gostam particularmente de enfeitar a sua grua onde nasceu o deus menino com ramos de azevinho e gil-barbeiro, que tem umas bagas vermelhas muito ornamentais.

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