Urubu Cultural

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quarta-feira, 9 de setembro de 2009

O Exorcismo

Certo dia, pela manhã, estava Idalina Costa a lavar a loiça, arrumada ao lava-loiça, quando de repente, o Diabo lhe entrou no corpo.
Idalina era o que se pode chamar de: solteirona inveterada. Vivia com a irmã e com o cunhado, numa casa de dois andares; estava-lhe reservado o piso térreo, mais pequeno, enquanto que o primeiro andar, bem mais espaçoso, estava reservado ao casal.
Estranhando a suspeita demora de Idalina a lavar a loiça, Celeste, sua irmã, não a encontrando na cozinha, correu a casa toda à procura da irmã. Encontrou-a finalmente, no seu quarto, em estranhíssimos preparos: completamente nua, em cima da cama, Idalina satisfazia-se, introduzindo e retirando, da vagina, um invólucro de alumínio, onde os charutos cubanos de seu cunhado, vinham acondicionados.
Celeste percebeu imediatamente o que se passava, Idalina estava possessa pelo Diabo; para sanar de vez as suas dúvidas, Celeste interrogou a irmã:
- Idalina, que pouca vergonha é essa?
Idalina ergueu mecanicamente a cabeça, disposta no travesseiro, e ao encarar o crucifixo que a irmã trazia, revirou os olhos e exclamou em alemão corrente:
- Vai-te daqui, sua puta, e deixa-me acabar de enfiar esta merda na cona...
Celeste não percebeu nada do que a irmã disse, o que veio reforçar-lhe ainda mais as suspeitas. Abalou a correr do quarto da irmã, em direcção à igreja.
Lá chegada, lavada em lágrimas, deixou-se cair de joelhos, frente ao altar, onde Cristo sofria com as suas chagas. O padre Fontes, que estava no momento a sodomizar Tiago, um rapazinho que era o chefe do coro masculino, actuante na igreja aos domingos, alertado por tamanha choradeira, desceu imediatamente a batina, sugerindo que Tiago vestisse as truces, bem como as calças, e acorreu à igreja.
Deparou-se com Celeste, estendida no chão, sem forças para mais. Ordenou de imediato a Tiago que lhe trouxesse água, a fim de refrescar as fontes daquela pobre ovelha afectada. Já mais calma, e sob o interrogatório do padre Fontes, Celeste relatou tudo o que presenciara no antro pecaminoso, que era o quarto da irmã. Padre Fontes, preocupado, passou à acção, correu à sacristia e muniu-se de toda a parafernália exorcista. Uma grande cruz de ouro de lei, uma garrafa de água-benta e uma fotogravura de Nossa Senhora de Fátima.
Chegados ao quarto do pecado, o mundo acabou.
Não existe, creio eu, em minha modesta e humilde pusilanimidade, melhor imagem que descreva a vida, que a de estar sentado num compartimento de um comboio parado. Espectantes, passam-nos a correr, como o comboio ao lado do nosso, inúmeros acontecimentos, que assim como não temos controlo sobre o comboio que passa ao nosso lado, também não temos sobre a vida.

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