Urubu Cultural

Urubu Cultural

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Bosque em Quimera


Avanço num bosque de retorcidos folículos de arvoredos indecifráveis,
Rodeados formatos de um extravagante odoroso…
Um marejado de escrivaninhas numa ladeira fornada e enfeitada de corpos a dactilografar
Páginas e mais páginas escritas e repousadas por entre a Natureza
Documentos variados e cinzas de cigarro
Não há pássaros ou animais
Meros sons a gritar na brisa
Ensurdecedores pressionares de teclas de maquinaria
Escritos e mais escritos
As árvores são palavras e as palavras transfiguram-se em letras
Aleatórias vociferadas em páginas brancas
Como uma fábrica de veloz industrialização
Os corpos dactilografam sem pensar ou ponderar
As pontas dos dedos ditam o que é dito
Já nada importa ou se reveste de pensamento
São os sonhos que vêem acariciar
Neste bosque de retorcidos folículos
Escrevem-se onirismos
Das nucas dos que escrevem caiem ramos que se interligam nas árvores
Com entrelaços de braços de imagens rápidas, mais rápidas que o vento
Tão apressada galopeia a imaginação que por vezes nem a consegue descrever
E assim as letras em nada se tornam. Nada de lógico ou compreensível.
Mas não será tudo uma mera incompreensão ilógica?
Quando as árvores cessam de alimentar os corpos de sonhos e imaginação
Agitam-se os céus e violentos sussurros abraçam páginas e mais páginas
Agora dançam esvoaçando pelos bosques, levadas não se sabe bem para onde
Absortos os corpos em quimeras, adormecem num profundo sono desperto.
Aguardam que as árvores os voltem a saciar
E o processo recomeça mais uma vez.
E assim vive este curioso bosque… onde pássaros e outros animais não têm lugar.
Somente escrivaninhas e máquinas de escrever e seus corpos semi despertos
A descrever o que as árvores lhes mostram
No encantatório inebriante mundo para lá do racional.

Sem comentários:

Enviar um comentário