Os Urubus surgem quando pressentem a morte, a velhice e a doença. Transformam a merda em merda, que por sua vez faz surgir nova vida, mais vibrante e viçosa. O Urubu é a Fénix Dadá, o voo planante do Surrealismo.
Urubu Cultural
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
Como confeccionar devidamente uma boa Massa Estúpida
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
Sou apenas uma mulher...
Vidas sem esperança
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
Descoberta
A carta misteriosa
O pedido do médico
O mistério do bangaló
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
O lagarto
Tifo Negro
terça-feira, 30 de novembro de 2010
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
A Profetisa Maria Elisa
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
Sermão de São Tomé aos peixes
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
Gacto, uma quase simbiose
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
A páscoa de Joaquim
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
O natal de Bento
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
Tragam valor acrescentado
domingo, 26 de setembro de 2010
terça-feira, 21 de setembro de 2010
Thermometro a gaz
Epopéa sem heroes nem martyres sociaes, onde só a immensa sympathia e amôr de Christo, pelos ideaes da epocha, constitue glorias. Leval-o antes a’ janella triumphante, onde seu pae hontem ennegresseu o ineffavel lyrio que creou; vel-o, e’ acceitar sômente comvosco, os ingenuos typos de emprehendimentos actuaes, immersos em bemdita audacia, que attrae o cavallo que ha e sae da pharmacia innundada.
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Casamento em Estado Novo
terça-feira, 17 de agosto de 2010
Descobrimentos e Expedições
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
A traição é o veneno da paixão
terça-feira, 10 de agosto de 2010
O Reflexo
São quatro da manhã. Oiço na ruas os ronronos industriais da máquina trituradora e engolidora do veículo dos homens do lixo a processar os nossos dejectos. Aqui estou no meu quatro, sozinho no escuro... Acompanha-me uma luzinha muito suave do monitor de um computador portátil que me ofusca as vistas com seu brilhante cintilo. A luz azulada de um disco externo que pisca em intermitências inconstantes projectando na janela o meu reflexo de perfil. Lembro-me de o ter olhado de soslaio, quando repousava as vistas. Parece que o meu reflexo se modifica em transfigurações... ali está intacto e quieto, parece que me aguarda... afinal sou eu o lado real e o controlador... mas depois fitando-me pelo canto da íris, o reflexo parece aumentar suas formas. Como se fosse uma mancha de tinta numa folha de papel branco... A luz azulada ilumina-o num ângulo de baixo para cima... o pescoço está visivel, mas depois o rosto é uma paleta disforme de uma sombra com misteriosos contornos que formam a minha face... como se a própria noite salpicasse de tintas uma caricatura abstracta de mim mesmo. Observo o meu reflexo, iluminado pela luz não natural de um objecto orgânico. Assusta-me de certo modo ver esta forma, sou eu mas ao mesmo tempo já não sou, pois se me reflecte já não serei eu, em boa verdade... Vejo a mancha a alastrar e a ocupar mais espaço no vidro da janela de meu quarto... deve ser um sinal de que está a crescer. Mas porquê? E para onde? Às vezes parece que se mexe antes que eu mesmo me mexa. Outras apenas ali está com sua função natural de me projectar ao sentir o abraço da luz. Enquanto a olho, também me olha de volta... pois se é o meu reflexo é sua obrigatoriedade me fitar de volta enquanto a confronto. Mas não pára de crescer... apoderando-se gradualmente de mais e mais centímetros da minha janela. Enquanto escrevo, algo de inesperado acontece... para o qual não estou precavido nem sequer compreendo tamanho fenómeno... Ao premir as teclas do portátil, as mesmas afundam-se pausadamente, desaparecendo numa espécie de caixa negra que se vai formando e aumentando à medida que as teclas se evaporam. Letra a letra... A minha mão entra neste buraco negro, é fundo... Insiro e retiro alguns dedos... depois mergulho a mão... Elevo o portátil acima da mesa, tentando discernir este misterioso buraco. Tudo normal. A mesma mesa de pinho... Não há qualquer abertura na extremidade do portátil. Investigo esta caixa negra de profundidade assinalável que surgiu no painel do teclado. Num acto irreflectido e imediato, submerjo o rosto neste vácuo que substitui o teclado... Um profundo buraco negro sem fim. O medo cobre-me as têmporas, servindo-se depois de um fino manto que me cobre as carnes por inteiro. Apresso-me a tirar o rosto deste misterioso portal, ou que raios será... Olho para a minha esquerda, onde está a janela do quarto. Errado. Não está lá janela alguma, nem a persiana corrida, muito menos a mancha do meu reflexo. Ao olhar para a esquerda vejo a rua do meu apartamento. Mas do lado de fora... Nem sequer é através do vidro. Uma brisa calma e suave como um murmúrio assobia-me por entre o tímpano. Mas onde estou? Não estou no meu quarto, mas também não estou para lá do meu apartamento. Ao olhar para a direita, vejo tudo turvo, como um picotado de diminutos quadradinhos que formam imagens... Estou dentro da janela... e os quadradinhos pertencem à persiana... O reflexo que anteriormente não era mais que uma projecção ampliada por uma ténue luz, apoderou-se do lado real e ali está fitando-me sem pestanejar... do outro lado. Mantém seu formato meio que abstracto, o corpo uma mera silhueta de sombreados dispersos. E aqui me sinto em expansão... tanto física, (pois o repuxar de carnes e músculos alarga-me para um formato de complexas descrições) como metafísica, pois estou dentro e em simultâneo fora de mim. A sombra apoderou-se do real... Nem sei que raio vai fazer. Talvez viver o meu quotidiano, as minhas vivências, aqueles que me rodeiam, meus sonhos e anseios... E eu? Talvez desapareça numa névoa de claridade quando a luz se acender ou o Sol abraçar a janela pela manhã.